domingo, 22 de março de 2015

UMA INVESTIGAÇÃO DE DUAS REDAÇÕES



ZERO HORA 22 de março de 2015 | N° 18109


CARTA DA EDITORA | Marta Gleich



Por trás da reportagem especial deste domingo, Minha Casa Minha Fraude, há bastidores que gostaria de compartilhar com nossos leitores.


Desde 2012, criamos em Zero Hora um Grupo de Investigação. Formado por repórteres e editores que se dedicam de forma especial a ser, como os americanos denominam, “watchdogs”, ou cães de guarda da sociedade, esse time pensa pautas, planeja a longo prazo e vai a campo investigar, em reportagens que algumas vezes significam investimentos de apuração e edição de até um ano.

Formado hoje pelos jornalistas Adriana Irion, Carlos Rollsing, Eduardo Torres (Diário Gaúcho), Humberto Trezzi, José Luis Costa, Maurício Tonetto e Rodrigo Lopes, o grupo de repórteres decidiu que o principal programa habitacional do governo federal, o Minha Casa Minha Vida, merecia uma investigação especial. O projeto tem muitos méritos, entre eles o de concretizar o sonho da casa própria a quem nunca teve a chance de dispor de um teto. Em 2013, foi responsável por um terço (32,1%) do total das construções de moradias do Brasil. O problema é que o programa governamental tem sido alvo de fraudes variadas, vendas irregulares e construções de má qualidade. Mais: em algumas cidades, o tráfico de drogas acossa a comunidade, alvo frequente de operações policiais.

A diferença nesta investigação é que ela foi produzida por repórteres investigativos de dois jornais do Grupo RBS: Humberto Trezzi e o fotógrafo Fernando Gomes, de ZH, e Ânderson Silva e a fotógrafa Betina Humeres, do Diário Catarinense – já que as fraudes não se restringem ao Rio Grande do Sul. Durante 40 dias, os jornalistas se debruçaram sobre documentos oficiais e bateram de porta em porta de condomínios construídos para o Minha Casa Minha Vida. Depararam com mau acabamento das construções (infiltrações, inundações, rachaduras) em prédios de Canoas, Porto Alegre, Sapucaia do Sul, Cachoeirinha, Novo Hamburgo e São Leopoldo. Constataram que em pelo menos oito cidades gaúchas de porte médio proliferam denúncias de comércio ou aluguel irregular de imóveis do programa governamental. Em Santa Catarina, aos problemas de infraestrutura e invasão, somam-se tráfico de drogas, prostituição e ameaça de morte em Blumenau e Palhoça. Cada um dos jornais publica neste domingo o mesmo tema, mas cada um com o enfoque adequado a seu público e sua zona geográfica. Essa soma de esforços traz ao leitor um conteúdo mais completo e mais aprofundado.

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