segunda-feira, 29 de setembro de 2014

GOLPE MILIONÁRIO EM MAIS DE 30 MIL CLIENTES

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 28/09/2014

Acusado de aplicar golpe milionário em mais de 30 mil clientes é preso . Advogado é acusado de ter lucrado mais de R$ 100 milhões ilegalmente. Maurício Dal Agnol tem jato, apartamentos luxuosos e milhões na conta.

Avião particular, apartamentos luxuosos e milhões de reais na conta corrente. Conheça a vida de marajá de um advogado acusado de aplicar um golpe milionário em mais de 30 mil clientes. Ele foi preso esta semana, no Rio Grande do Sul.

Um jato particular para oito pessoas. O preço desse luxo: mais de R$ 20 milhões. O dono do avião é um advogado de 40 anos, preso segunda-feira (22), em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Maurício Dal Agnol é acusado de dar um golpe em pelo menos 30 mil clientes dele e ter lucrado mais de R$ 100 milhões ilegalmente.

“Ele podia ter ficado rico sem ter lesado ninguém. O problema é que ele, como se diz no jargão popular, cresceu o olho”, diz Marcelo Silveira Pires, promotor de Justiça.

Em um telefonema, o advogado diz para a mulher Márcia que está querendo comprar um apartamento nos Estados Unidos.

Maurício: Estou olhando aqui apartamentos em Nova York. Quatro quartos, três banheiros.
Márcia: Uh, lá lá.

Como esse advogado do interior gaúcho conseguiu tanto dinheiro? Para entender a fraude, é preciso voltar no tempo: anos 80 e 90. Nessa época, ter uma linha de telefone fixo era caro e pouca gente tinha.

No Rio Grande do Sul, a CRT, Companhia Riograndense de Telecomunicações, era a empresa do governo gaúcho que vendia as linhas. Ao comprar o telefone, a pessoa, além de adquirir a linha, também se tornava acionista da empresa. Ou seja: virava sócio, dono de um lote de ações.

Em 1996, a CRT foi privatizada, vendida para uma empresa particular de telefonia. O preço das ações disparou. Os donos de linhas telefônicas da antiga CRT não receberam nada e entraram na Justiça para exigir indenização, já que eram acionistas. É aí que o advogado Maurício Dal Agnol entra na história.

Segundo a Polícia Federal, ele ia atrás dos clientes e entrava com os pedidos de indenização. Mas quando pegava o dinheiro, não repassava o combinado. A maior parte ia para o bolso dele. Quem se sentiu lesado trocou de advogado.

"Representamos clientes que teriam que ter recebido R$ 4 milhões, e receberam R$ 13 mil", diz Itamar Marcelo Prates, advogado de vítimas do golpe.

Em fevereiro deste ano, policiais conseguiram um mandado de busca e encontraram um quarto secreto na casa de Maurício Dal Agnol. Além de armas e de R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo, havia muitos documentos falsificados na residência.

De acordo com as investigações, era esta papelada que o advogado costumava apresentar aos clientes, para enganá-los.

Fantástico: O que foi dito para o senhor?
Zilmar Barella: Que não tinha mais nada a receber. Que tinha terminado por ali e "olha aqui está o seu dinheirinho".

Há 4 anos, dona Vera recebeu de Maurício Dal Agnol R$ 73 mil de indenização. “Fiquei. Nossa Senhora. Era um milagre ter recebido essa quantia”, diz Vera Nalderer, aposentada.

Só que ela deveria ter recebido o dobro: quase R$ 150 mil. “Na época, eu podia ter comprado um apartamento. E que apartamento, há quatro, cinco anos atrás”, lamenta Vera Nalderer.

As investigações revelaram que Maurício Dal Agnol é proprietário de 950 imóveis. Um deles é um haras em Passo Fundo que tem na entrada as iniciais do nome do advogado: MD.

“Muitos cavalos vinham do exterior, da Holanda, de mais de R$ 1 milhão e ele fazia comércio também de cavalo”, conta Mário Luiz Vieira, delegado da Polícia Federal.

O advogado tinha um gosto especial por animais empalhados, todos comprados no exterior. Uma pata de elefante custou, segundo a Polícia Federal, US$ 30 mil. Esse valor, de cerca de R$ 70 mil, não chega nem perto, de acordo com as investigações, de outras extravagâncias e mordomias bancadas com o dinheiro dos outros.

Foi em janeiro de 2013 que Maurício Dal Agnol disse para Márcia, a mulher dele, que ia comprar um apartamento em Nova York. Ela quis saber de onde sairia o dinheiro e perguntou se era da conta da filha do casal.

Márcia: Vai tirar da poupança dela?
Maurício: US$ 2 milhões.
Márcia: Sério? Uh, lá lá.

Seis meses depois, Maurício Dal Agnol realmente comprou o apartamento em Nova York, perto do Central Park. O valor foi de US$ 5,8 milhões, cerca de R$ 14 milhões. O advogado nega as acusações.

“O Maurício Dal Agnol não ficou com o dinheiro dos clientes. Esses bens, ele adquiriu com dinheiro dele. Só que esses bens não foram adquiridos à vista. Tanto o jato quanto o apartamento em Nova York, ele financiou”, afirma Eduardo Sanz, advogado de Maurício Dal Agnol.

A Justiça bloqueou os bens e o dinheiro das contas correntes de Maurício Dal Agnol, que continua preso.

E o julgamento dele? Será que demora?

“Tanto o acusado como sua esposa arrolaram mais de 200 testemunhas e isso pode comprometer o desfecho do processo em um prazo mais acelerado”, diz Orlando Faccini Neto, juiz e diretor do Fórum de Passo Fundo.

Fantástico: Foi enganada?
Vera Nalderer, aposentada: Sim. E como. A gente foi lesada, né.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

DEFESA REBATE ACUSAÇÕES FEITAS CONTRA DAL AGNOL



ZH 26 de setembro de 2014 | N° 17934



DEFENSORES DO ADVOGADO elencam supostas irregularidades sobre a prisão dele pela PF em Passo Fundo no anoitecer da última segunda-feiraAdefesa de Maurício Dal Agnol, acusado de dar um golpe milionário em clientes, divulgou ontem nota contestando as suspeitas que envolvem o advogado de Passo Fundo. O comunicado indica uma série de supostas irregularidades na investigação e “inverdades” sobre a prisão dele.

A nota alega que a investigação deveria ser feita pela Polícia Civil e não pela Federal, que ao anoitecer de segunda-feira realizou a prisão do Dal Agnoldo, em Passo Fundo.

O advogado, que teria se tornado milionário ao processar a telefônica BrT (atual Oi), tornou-se réu em uma ação que o acusa de ter traído a confiança dos clientes e ficado com a maior parte dos R$ 300 milhões obtidos em causas.

Sobre a prisão desta semana, deferida pela juíza Ana Cristina Frighetto, da 3ª Vara Criminal de Passo Fundo, a defesa diz que foi “abusiva, com uso desnecessário de armas de fogo de grosso calibre e de algemas” já que ele não apresentou resistência. Há também uma acusação contra a juíza.

Conforme os advogados, Ana Cristina foi cliente do réu e esta situação caracterizaria impedimento da magistrada em tomar decisões sobre o caso. Ao contestar a alegação de suspeição, Ana Cristina explicou que jamais foi cliente e nem teve contato com qualquer pessoa ligada ao escritório de Dal Agnol. Afirma que tinha uma linha telefônica em seu nome, no ano de 1994, mas que ela pertencia ao pai, este sim cliente do escritório.

A defesa assinada pela empresa Eduardo Sanz Advogados Associados diz que o passaporte em posse de Dal Agnol estava vencido, pois o válido está em poder da Justiça. Sendo assim, ele não pretendia fugir e a defesa iria entrar com novo pedido de habeas corpus. A nota termina ressaltando a inocência de Dal Agnol.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

GOLPE MILIONÁRIO NO RAMO DE IMÓVEIS

 

ZH 24/09/2014 | 19h01


Dono de imobiliária acusado de golpes milionários é preso em SC. Anderson de Azevedo Salomão foi capturado em Balneário Camboriú pela Polícia Federal




Agentes da Polícia Federal (PF) prenderam na tarde desta quarta-feira um empresário de Passo Fundo acusado por golpes milionários no ramo da venda de imóveis. Anderson de Azevedo Salomão foi capturado em Balneário Camboriú (SC), quando se exercitava em uma academia, e será enviado ao Presídio Regional de Passo Fundo, para cumprir prisão preventiva.

A prisão foi decretada pelo juiz Orlando Faccini Neto, titular da 2ª Vara Criminal de Passo Fundo. Conforme o inquérito da PF, corroborado por denúncia do Ministério Público Estadual, Anderson Salomão, dono de uma imobiliária prestigiada naquela cidade, firmava contratos de compra e venda com clientes desejosos de vender suas casas.

Munido de procuração deles, o empresário negociava os imóveis e já providenciava escritura aos compradores, mesmo antes de pagar os donos originais. Em algumas ocasiões, a escritura era falsificada, assegura a PF. Em outras, como na compra de uma casa no bairro Cidade Nova e de uma caminhonete Hilux, o pagamento aos antigos donos foi feita com cheques sem fundo.

Num dos casos, Salomão é acusado de comprar uma casa avaliada em R$ 5,8 milhões de um casal de idosos e jamais ter pago. Mesmo assim, entregou a residência como garantia em outro negócio, mediante documentos forjados. O cálculo do delegado Mauro Vinícius de Moraes, chefe da delegacia da PF em Passo Fundo, é que Salomão tenha feitos negócios imobiliários fraudulentos no valor de R$ 11 milhões.

Os policiais solicitaram também a indisponibilidade de três automóveis de luxo de Salomão, que teve a prisão preventiva decretada por oito estelionatos e quatro crimes de uso de documento falso. ZH não conseguiu contato com algum advogado de Salomão, para ouvir sua defesa.

SAQUES SUSPEITOS, PRISÃO E ALGEMAS


ZH 24 de setembro de 2014 | N° 17932



CARLOS WAGNER HUMBERTO TREZZI



PASSO FUNDO. Dal Agnol resgatou R$ 99 milhões de contas bancárias desde junho. Risco de fuga e preocupação com as perdas que a retirada do dinheiro representaria aos clientes do advogado motivaram Polícia Federal a pedir prisão preventiva dele na segunda-feira


O advogado Maurício Dal Agnol, recolhido desde segunda-feira ao Presídio Regional de Passo Fundo, tentaria sair do país na noite em que foi detido, segundo informação do chefe da Delegacia da Polícia Federal (PF) na cidade, delegado Mauro Vinícius Soares de Moraes:

– Recebemos a informação de que ele tinha arrumado uma mala de dinheiro e pedimos a prisão imediata, concedida pela juíza.

O pedido foi confirmado pelos promotores de Justiça Álvaro Poglia, Marcelo Pires e Júlio Ballardin.

Dal Agnol teve a prisão preventiva decretada pela juíza Ana Cristina Frighetto, da 3ª Vara Criminal de Passo Fundo, também por possuir armas de uso restrito, como fuzis e pistolas (o que é crime inafiançável). Mas a principal motivação da prisão foi o fato de ele ter retirado milhões de suas contas bancárias no Rio Grande do Sul.

PARENTES TERÃO DE EXPLICAR RETIRADAS DE DINHEIRO

Um levantamento com base em dados do Banco Central, em poder da juíza, estima que Dal Agnol, seus familiares e colaboradores próximos removeram R$ 99 milhões de 400 contas e aplicações bancárias desde junho, mês em que o advogado se apresentou à Justiça, após conseguir um habeas corpus que revogava a prisão preventiva decretada em fevereiro. Uma parente dele teria sacado R$ 1,7 milhão. Todos serão convocados a explicar por que fizeram os resgates.

– A soma desses fatos nos levou a pedir e a conseguir a preventiva – diz o promotor Marcelo Pires.

A prisão de Dal Agnol ocorreu no anoitecer de segunda, no centro de Passo Fundo, onde fica a sede do seu escritório, que tem filiais em vários Estados. Na Land Rover usada por ele no momento da detenção, estavam também um motorista e um segurança. No veículo, foi encontrada uma sacola com R$ 200 mil em dinheiro, além de R$ 133 mil em cheques de empresas, que poderiam ser descontados pelo advogado. Os policiais receberam informação de que Dal Agnol pretendia se refugiar no Uruguai, temeroso de ser preso novamente.

Com Dal Agnol também foi encontrado um passaporte vencido, mas com visto válido para entrada nos Estados Unidos (EUA). O passaporte atual, sem visto americano, ele havia entregue à PF. O delegado Moraes avalia que o advogado tentaria ingressar nos EUA.

A defesa de Dal Agnol entrou ontem com pedido de habeas corpus na 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça (TJ), em Porto Alegre, colocando sob suspeição a juíza que decretou a prisão do advogado e seus atos. O habeas foi negado pela desembargadora Vanderlei Teresinha Tremeia Kubiak. Ela considerou que “fatos novos sobrevierem a justificar a necessidade da prisão”. Isto é, a prisão de Dal Agnol decretada segunda-feira se refere a dois novos processos diferentes ao que ele respondia em fevereiro.


O uso de algemas foi necessário?


Ao ser preso, Dal Agnol foi retirado do carro e algemado, com o rosto contra o chão. A cena despertou a curiosidade de muitas pessoas que passavam, ao ver o advogado sujando o terno contra o solo. Era necessário?

Uma súmula do Supremo Tribunal Federal recomenda que algemas não sejam usadas em detenções, excetuados “casos excepcionais”. Usualmente, em situação de resistência, risco de fuga ou perigo contra o próprio preso. A determinação surgiu em 2008, quando o banqueiro Daniel Dantas foi preso e algemado. Dantas acabou libertado mediante um habeas no qual argumentou ter sido humilhado pelo uso de algemas.

Era necessário usar algemas contra Dal Agnol? Afinal, ele é réu primário e não parecia oferecer resistência. Questionado, o delegado Mauro Vinícius Soares de Moraes, chefe da Delegacia da PF em Passo Fundo, diz que a decisão foi acertada. Primeiro, porque Dal Agnol costumava usar armas – e poderia estar armado. Segundo, porque estava acompanhado de um segurança armado. Terceiro, porque um outro carro, com seguranças, fazia a escolta da caminhonete dele.

– Tudo isso justifica o uso das algemas. Continuou algemado na delegacia, porque poderiam tentar libertá-lo, e a algema dificultaria essa possibilidade – explicou o delegado.



UM HOMEM SOB SUSPEITA
POR QUE DAL AGNOL FOI PRESO
-Investigação da PF aponta que ele teria firmado acordos em nome de clientes sem repassar os ganhos de causa ou, no máximo, o repasse seria de 20% do valor devido, em vez de 80%. A maioria dos processos era contra a empresa de telefonia Brasil Telecom (BrT), atual Oi.
-Foram abertos contra ele 160 inquéritos policiais, que envolvem 40 mil vítimas. Dos 160 inquéritos, cem já foram remetidos ao Ministério Público (MP).
-Dal Agnol teria aplicado o dinheiro em bens. Uma investigação do MP busca saber se é verdadeira a informação de que ele e familiares teriam adquirido 900 imóveis. Pelo menos 10 já teriam sido identificados, entre os quais, dois apartamentos milionários em Nova York.
CONTRAPONTO
O QUE DIZ A DEFESA DE DAL AGNOL
Os advogados de Dal Agnol ainda não se pronunciaram. Em entrevista a ZH no dia 14, rebateram as principais acusações contra seu cliente.
-Valores justos – Dal Agnol afirma que os valores pagos aos clientes nas causas ganhas contra a BrT são corretos. Muitos descontos no valor nominal do pagamento são feitos porque ele arcou com despesas processuais e honorários, além de contratar outros advogados em Brasília para atuar no Superior Tribunal de Justiça. Além disso, há processos com vários réus, mas eles imaginam ter ganho o valor sozinhos.
-Clientes deram procuração – A PF diz que ele não informou aos clientes que renunciaria a 50% dos valores questionados. Os advogados afirmam que os clientes deram procurações amplas para ele negociar.
-Dinheiro em conta poupança – Os advogados admitem que alguns clientes discordam dos valores recebidos. Garantem que Dal Agnol depositou os valores questionados em conta poupança.
-Cheques não entregues – Dal Agnol emitia cheques para pagar clientes vencedores da causa contra a BrT. “Se alguns não receberam, não é culpa dele”, diz um dos advogados.

domingo, 14 de setembro de 2014

ADVOGADO ACUSADO DE LESAR MILHARES DE CLIENTES VIVE NO ANONIMATO

DIÁRIO GAÚCHO 14/09/2014 | 07h01

Maurício Dal Agnol, que já foi famoso em Passo Fundo, hoje foge das câmeras


Vestido de forma impecável, Dal Agnol se apresenta duas vezes por semana à JustiçaFoto: Diogo Zanatta / Especial


Humberto Trezzi, de Passo Fundo




O advogado Maurício Dal Agnol teve o nome jogado ao descrédito, bens congelados e gasta fortunas para se defender da acusação de ser um dos maiores golpistas do Rio Grande do Sul. Mas é com cabelo milimetricamente alinhado e terno impecável que ele comparece, todas as segundas e sextas-feiras, à 3ª Vara Criminal de Passo Fundo para se apresentar à Justiça, como determina a Justiça.

Precisa provar que não tem intenção de fugir. Vai sempre com um segurança. Já foi vaiado na rua, mas suportou sem mover um músculo. Ao chegar ao fórum, mantém o hábito de apertar a mão de funcionários e perguntar "como vai?".

Age assim porque era um dos mais assíduos patrocinadores de causas jurídicas em Passo Fundo. Foi a partir dessa cidade do planalto gaúcho que ele ganhou o mundo. Fez carreira meteórica, fama e fortuna ao atuar na onda milionária de processos contra a empresa de telefonia Brasil Telecom (BrT), movida por antigos acionistas daCompanhia Riograndense de Telecomunicações (CRT), que exigiam reajuste nos valores pagos a eles pelas ações da empresa – comprada pela BrT e que deu origem à atual Oi.

Conforme o Ministério Público, o advogado teria traído a confiança dos clientes e ficado com a maior parte de R$ 300 milhões obtidos de causas contra a BRT, o que motivou pedido de prisão contra ele, em fevereiro.

Graças a um habeas corpus, Dal Agnol escapou da prisão, mas se diz perseguido e inadimplente. Tenta na Justiça obter direito a vender seus bens. O Haras MD (iniciais do dono), aberto em 2009, sediou shows e competições para até 8 mil pessoas e continua funcionando, mediante aluguel a terceiros. Festas são dadas ali, mas não pelo advogado, que raramente aparece.



O jato Phenom 300, apreendido pela Polícia Federal no dia da operação que desarticulou o suposto esquema de fraude, em 21 de fevereiro, é avaliado em cerca de US$ 12 milhões (R$ 28 milhões). Dal Agnol teria obtido financiamento em dois bancos, pagando parcelas mensais de R$ 400 mil. Com a aeronave, o advogado tinha custo mensal de manutenção, pilotos e hangar de aproximadamente R$ 50 mil. Sob guarda da Justiça, o jato precisa ser ligado semanalmente para evitar deterioração. Os pilotos foram dispensados.

Nos fins de semana, o advogado costuma ir a Curitiba, conduzido em sua caminhonete Land Rover por um motorista e escoltado por um segurança, para visitar a mulher, Márcia, e seus dois filhos pequenos. Evita aviões, por temer encontrar desafetos. Os conhecidos dizem que a mulher do advogado mergulhou em depressão após o furacão que se abateu sobre a família.

O casal se queixa da indisponibilidade do dinheiro e, com base nisso, alega não ter como pagar a fiança. A investigação da PF garante que, em 2008, passaram por suas contas R$ 69 milhões. Em 2009, foram R$ 48 milhões. Em 2010, R$ 222 milhões. E, em 2011, R$ 139 milhões. Ou seja, cerca de R$ 480 milhões em quatro anos. Os federais tentam rastrear o destino desse dinheiro.

Dal Agnol deu vários imóveis em garantia como substituição à fiança de R$ 1,6 milhão fixada pelo Tribunal de Justiça. O problema é que os bens têm de ser periciados por um avaliador. Por não concordar em custear a perícia, apresentou documento de empréstimo de R$ 2 mil para pagar o avaliador. De quebra, alegou suspeição contra a juíza, que, em processo cível, determinou o bloqueio de R$ 60 milhões de suas contas.

Em outra manobra, para tentar a prescrição (ausência de punição pela demora do processo), advogados de Dal Agnol arrolaram 215 testemunhas de defesa para ele e 200 para sua mulher – três delas em Nova York. Ouvi-las pode levar anos. Todas essas iniciativas são encaradas como escárnio pelos promotores e policiais que investigam o caso.

Fazenda em Soledade é aquisição recente do advogado

Foto: Diogo Zanatta, Especial

Parte do interior de Soledade é pobre, longe de tudo e de todos. Nas propriedades, guanxumas e macegas se espalham por campos descuidados, ponteados por escassas cabeças de gado. Mas num instante a paisagem, acinzentada pela poeira permanente do lugar, muda. O horizonte é tomado pelo verde da aveia plantada para alimentar animais de raça. E surge, no alto de uma colina, uma casa, situada em frente a um açude e a potreiros onde cavalos pastam mansamente. Ali fica uma das mais recentes aquisições de Maurício Dal Agnol, uma fazenda com 1,3 mil hectares.

A casa tem sete quartos no andar superior e 10 dependências no térreo, aí incluído um grande salão de festas. Só a residência é avaliada em R$ 1,5 milhão.

Dal Agnol adquiriu a propriedade no final de 2012 e ainda não terminou de pagar. Comprou também outras duas propriedades menores (cerca de 300 hectares cada), contíguas a essa fazenda. Estão registradas em nome dele e da mulher, Márcia. Vender imóvel para o casal era sonho de consumo para endividados produtores da região. Na época em que a primeira fazenda foi comprada, ela abrigava mais de 500 cabeças de gado.

– Desde que deu o problema com ele na Justiça, o seu Maurício nunca mais apareceu. A gente cuida de tudo – informa um dos empregados da fazenda.

A reportagem fez contato também com o antigo proprietário, um industrial. Ele admite que Dal Agnol ainda não quitou todas as prestações.

O curioso, nisso tudo, é que o advogado afirma não ter condições financeiras de arcar com processo judicial, advogado e perícia na ação movida contra ele pelo Ministério Público. Ajuizou em 28 de julho pedido, na 3ª Vara Criminal, de assistência judiciária gratuita, para que o processo "não comprometa seu sustento e de seus familiares".

Em busca de mais imóveis

Foto: Diogo Zanatta, Especial

O Laboratório de Lavagem de Dinheiro do Ministério Público Estadual e a Receita Federal investigam a informação de que Maurício Dal Agnol teria cerca de 900 imóveisem seu nome e no de terceiros.

— Não sabemos quantos são, mas falam nesse número — diz o promotor criminal Álvaro Poglia, que trabalha no caso.

Advogados também passaram a rastrear esses imóveis, movendo ações de indenização em nome de clientes que se dizem lesados pelo proprietário. Eles também miram a telefônica BrT, para reivindicar o dinheiro dos processos perdidos pela empresa e que agora já não pode ser sacado pelo bacharel, suspenso pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Uma anunciada Associação de Vítimas de Maurício Dal Agnol não vingou e, agora, cada advogado age por sua conta. Cada um busca ressarcimento por danos morais e materiais.

— Ele fez acordo com a BrT sem os clientes saberem, abrindo mão de 50% dos valores pedidos inicialmente. Ora, acordos só valem quando o cliente é informado dos detalhes — justifica Aline Moura, uma das advogadas que tenta captar para os queixosos dinheiro que o acusado teria recebido indevidamente nas causas judiciais.

Outro que acaba de ganhar uma ação de R$ 800 mil é o advogado Günther Mühlbach. Ele ressalta que de 30 mil clientes de Dal Agnol, 20 mil ainda têm ações tramitando.

A Polícia Federal recebeu centenas de informações sobre supostos bens. O delegado Mário Vieira teve dicas de pelo menos 150 imóveis que estariam em nome do bacharel ou de parentes próximos. Já foram confirmados, por exemplo, uma casa de dois andares, um prédio de escritório (foto acima) e um haras luxuoso (foto abaixo), todos em Passo Fundo. Também são dele dois apartamentos em Nova York, onde o acusado passava férias quando teve a prisão preventiva decretada, em fevereiro. Situados na 302 East 77th Street, na ilha de Manhattan, próximo ao badalado Central Park, os imóveis estão avaliados em US$ 5,8 milhões cada (o equivalente a R$ 12,7 milhões).

Dal Agnol permaneceu foragido até junho, quando obteve do Tribunal de Justiça habeas corpus suspendendo a ordem de captura. O advogado era assediado para empréstimos e para ser patrono ou investidor de tudo que é empreendimento: turfe, contribuição para conselho de segurança, fiador de dezenas de aluguéis. Agora o assédio é o contrário, de pessoas que se dizem enganadas por ele.

Foto: Diogo Zanatta, Especial

Acusado alega que pagou corretamente seus clientes

Maurício Dal Agnol montou, junto com a mulher e um grupo de colaboradores, escritórios em diversas regiões do Rio Grande do Sul e do Paraná, captando clientes para ações contra empresas telefônicas. Começou em 2003 e foi tão bem-sucedido que, temerosa de perder ações na última instância da Justiça, a BrT propôs a ele em 2010 um acordo: R$ 50 milhões de honorários e mais metade dos R$ 638 milhões reivindicados pelos clientes do advogado. Com isso, a empresa se livraria da dívida.

Investigação da PF afirma que o advogado fez acordos em nome dos clientes e não repassou a alguns deles os ganhos das causas. A outros, teria indenizado com apenas 20% do devido, em média (e não 80%, como acordado). Dal Agnol não quis dar entrevista. Deixou para seus três advogados as explicações – um deles, o juiz aposentado Antônio Arruda.

O que dizem os defensores de Dal Agnol

Valores justos

Os advogados de Dal Agnol afirmam que os valores pagos aos clientes nas causas ganhas contra a BrT são corretos. Muitos descontos no valor nominal do pagamento são feitos porque o advogado arcou com despesas processuais e honorários, além de contratar outros advogados em Brasília para atuar no STJ. Além disso, há processos com vários réus, mas eles imaginam ter ganho o valor sozinhos.

— Alguns moveram ação contra o Dal Agnol e já perderam, o valor era correto — informa um dos advogados.

Clientes deram procuração

A Polícia Federal diz que Dal Agnol não informou aos clientes que renunciaria a 50% dos valores questionados. Os advogados dele ressaltam que os clientes deram procurações amplas para Dal Agnol negociar, o que foi feito.

Dinheiro em conta poupança

Os advogados de Dal Agnol admitem que alguns clientes discordam dos valores recebidos e questionaram isso judicialmente. Eles garantem que Dal Agnol depositou os valores questionados em conta poupança, para pagar os descontentes, se for o caso.

Cheques não entregues

Dal Agnol emitia cheques para pagar clientes vencedores da causa contra a BrT. "Se alguns não receberam, não é culpa dele", diz um dos advogados. O dinheiro pode ter sido desviado por captadores de recursos da firma e isso será alegado em juízo.


ZERO HORA