sexta-feira, 4 de julho de 2014

15% DOS FURTOS E ROUBOS DE VEÍCULOS EM POA SÃO SIMULADOS

DIÁRIO GAÚCHO 03/07/2014 | 07h02

Érico Fabres

15% dos furtos e roubos de veículos em Porto Alegre são simulados pelos próprios donos. Golpes com êxito são difíceis de comprovar, segundo a Polícia Civil



Foto: Ver Descrição / Agencia RBS


Além do combate às quadrilhas de ladrões de veículos, agora a polícia precisa se ocupar também com uma nova modalidade de fraude que vem crescendo: o golpe do seguro. São pessoas que simulam ter seus veículos roubados ou furtados para receber a indenização das seguradoras. De acordo com o titular da Delegacia de Roubos de Veículos do Deic, delegado Juliano Ferreira, cerca de 15% das ocorrências registradas em Porto Alegre são "inventadas".

Dados da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, do primeiro trimestre, revelam uma média mensal de 817 casos de roubos e furtos na Capital. Como pelo menos 30% dessas ocorrências se referem a motos, a média de automóveis fica em 571 casos. Ou seja, ao menos 69 ocorrências mensais envolvendo carros seriam golpes para receber o seguro, uma média diária de duas fraudes.

De acordo com o presidente do Sindicato das Seguradoras no Rio Grande do Sul (Sindsergs), Júlio Rosa, 3% das indenizações de veículos na Capital deixam de ser pagas por alguma comprovação de fraude.

A diferença de 12% entre os índices da polícia e do Sindsergs seria devida aos golpes que tiveram êxito.

– Essa diferença se deve ao fato de não conseguir se provar que houve má fé. Nós sabemos (que é golpe) pelo que consta no registro da ocorrência, são dados que não batem, mas entre saber e afirmar existe um espaço muito grande. É o mesmo que dizer que 80% dos homicídios envolvem drogas, nem sempre há como comprovar, embora saibamos que é verdade – admite o delegado.

Fraude envolve ferros-velhos

O seguro, normalmente, é fixado em 10% acima do valor de mercado do veículo. Além disso, na maioria das fraudes, ele é negociado em algum desmanche, o que gera um lucro adicional para o fraudador. Segundo Juliano, o dono de um ferro-velho, preso recentemente, admitiu que, por mês, recebia de 15 a 20 propostas de compra de veículos para desmanche, por pessoas que queriam aplicar o golpe em seguradoras.

– Na maioria das vezes, a pessoa já sabe a quem procurar, raros são os casos de incertas – conta Juliano.

Já o presidente do Sindsergs afirma que, segundo dados da entidade, houve um aumento de 40% nos roubos e furtos de veículos segurados em relação ao ano passado.

– Em média, a investigação dos casos pela seguradora leva de cinco a dez dias. Para negar o pagamento de uma indenização, são necessárias provas contundentes. Sem provas, não conseguimos fazer nada – relata Júlio.

Fiscalização intensificada

A Polícia Civil tem intensificado a fiscalização em cima de desmanches e ferros-velhos, um dos principais destinos de veículos roubados e furtados. Em maio, duas quadrilhas foram desmanteladas na Região Metropolitana, e mais de dez pessoas foram presas. Um dos bandos era responsável por mais de 50 ocorrências.

Segundo dados da Roubos, Gol, Uno Eletronic, Hyundai i30, Focus e Palio são os veículos mais roubados ou furtados. Destes, Gol e Uno, por serem mais populares e com peças mais procuradas no mercado, geralmente vão para desmanche. Já os demais costumam ser clonados para serem utilizados em crimes como assaltos a bancos e estabelecimentos comerciais.

O valor pago pelas seguradoras, em caso de furto ou roubo (perda total) é baseado na tabela da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). O índice considera os preços de mercado, acrescidos de 10% pela desvalorização em virtude do uso. Por exemplo, um Hyundai i30, atualmente, tem um preço médio de R$ 67,4 mil. O seguro considera este valor mais 10%.

FRAUDE EM LICITAÇÕES



ZH 04 de julho de 2014 | N° 17849


JOSÉ LUIS COSTA



Falsário aplicava golpes em série
REDE DE 17 EMPRESAS seria fonte de contratos que teriam rendido R$ 40 milhões, segundo a PF


Em duas modestas salas comercias na Rua Caldas Junior, no centro de Porto Alegre, o contador Luís Felipe Da Pieve, 51 anos, instalou mesas, cadeiras e computadores. Entre documentos e pastas, fazia refeições e dormia sobre um colchão surrado. Dali, ele comandaria, segundo a Polícia Federal (PF), uma rede de 17 empresas que por uma década assinou contratos de prestação de serviços gerais para órgãos federais em cinco Estados. Ganharia concorrências com documentos falsos e, depois, sonegaria pagamento a empregados. Os golpes somariam R$ 40 milhões.

Às 7h da manhã de ontem, Da Pieve foi preso temporariamente pela PF sob suspeita de fraude em licitação e associação criminosa. No local, a PF apreendeu documentos e uma carteira de identidade falsa. Outras duas pessoas, em endereços diferentes, foram conduzidas para depor.

A ação teve apoio do escritório da Controladoria-Geral da União no Rio Grande do Sul e foi comandada pelo delegado Guilherme Torres, chefe do Núcleo de Inteligência da PF de Mato Grosso. Da Pieve era procurado naquele Estado desde abril, após apresentar documentos fraudulentos que permitiram a ele vencer uma concorrência de serviços de limpeza no prédio do Ministério da Fazenda. Técnicos perceberam a farsa e comunicaram a CGU, que avisou a PF. O contador montava empresas em nome de terceiros, ganhando licitações por oferecer preços baixos. Não recolhia encargos sociais e, quando era descoberto, sumia. Sem salários, os empregados entravam com ações na Justiça do Trabalho, e a União bancava os custos.

CONTADOR ESTAVA ENTRE OS MAIORES DEVEDORES

A descoberta expôs a trajetória de Da Pieve, nascido em Três de Maio, denunciado mais de 20 vezes à Justiça Federal, 15 das quais no Rio Grande do Sul – em um dos processos foi condenado a dois anos e 10 meses de prisão. No ano passado, figurou como 12º na lista dos maiores caloteiros da Justiça do Trabalho no Estado, com 83 dívidas pendentes.

A precariedade do escritório de Da Pieve revela a situação financeira em que ele se encontra. A derrocada começou em abril de 2009. Na época, ele foi capturado pela PF gaúcha, que tinha contratado uma empresa ligada a Da Pieve, assim como Banco Central, Advocacia-Geral da União, entre outros organismos federais. Da Pieve teve bens penhorados, incluindo uma fazenda em Caçapava do Sul, com 70 cavalos de raça. Pelo menos 30 animais morreram de fome ou por doença.